Percebo um problema gravíssimo em minha pessoa, o qual temo,
se não solucionado o mais breve possível, acabará por me tornar um velhote
molengo a morrer solitário em uma cadeira de balanço com um livro de Harry
Potter nas mãos.
Sim. Sim. Sim.
Por deveras preocupante, eu sei. Eu sei.
O problema a que descrevo, é esse, e não outro: A minha
tendência a ficar calado quando devo falar e abrir a boca quando se deve ficar
quieto.
Talvez te surpreenda eu ficar surpreso com tal descoberta a
qual muitos declarariam ser nada mais do que óbvia desde o início dos tempos,
mas o fato é que sempre me orgulhei do meu silêncio contemplativo. Fato. Aprendi
muita coisa assim, capita? Ouvindo as pessoas falarem suas palavras brutas e
pesadas e guardando minhas observações em minha humilde cabeçorra sobre o
pescoço, respondendo, ao invés, com um “uhum” ou um sorriso-amarelo-não-muito-amarelo-a-ponto-de-ofender.
Mas agora preciso ser sincero comigo mesmo. Quando eu
deveria de fato pensar duas vezes antes de por em sonora voz minhas palavras
refinadas e rudes, vou lá e coloco a boca no trombone. Transformando em
palavras pensamentos temporários dos quais me arrependerei no segundo a seguir.
Me pego pedindo desculpas a uma frequência assustadora.
É temível.
Assustador.
Sim, de fato, o é.
E fim.